Gostar é que conta

OUVIR


Galeto. Dez pessoas na esplanada. Gente que passa. Belos sons.
Há um murmurar difuso. Palavras entrecortadas. Sílabas apenas.
No lugar onde me sento, encostado ao vidro que separa o passeio do serviço, podem ouvir-se dois mundos. De quem entra e sai. De quem não entra.
Estão todos vestidos de verão apesar da brisa que agora pode transportar o som de mais longe. Ouço a mesa do fundo, mulheres jovens falam de tributos, desejos. Ouço-as falar dos homens com risos de largo desdém. São cúmplices e companheiras.

(chegou a minha salada de peixe)

– Podemos falar sem ser à moda dos pokemons?
– Não sei nada disso. Come que arrefece.
– Não se corre esse risco, é uma salada fria.
– Mesmo assim. Todas as coisas podem arrefecer ainda mais.

(—)

– Bom apetite.
– Dava para dois
[gosto de ti]
– Acabei de comer um abacate
– Unidose?
– Um abacate é um abacate
– E não uma romã de novembro?
– Gosto tanto de um como da outra
– Gostar é que conta.


Música: Keith Jarret – Radiance, disco 1, Radiance parte IX; e Radiance, disco 2, parte X


A espuma dos dias©

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