B – Desculpa a demora. Li agora o que escreveste e desprendeu-se-me logo aquela palavra com mais de um hífen que andava a guardar para ti. Caiu-me deste armário onde ando polidamente escondido desde que me conheço. O teu desafio faz sentido.
C – Nem sei quanto tempo passaste a desenhar o caminho dessas duas páginas até ao nosso desencontro conhecido, ou desconhecido encontro, ou lá que raio de citações decidiste convocar para me chamares a atenção.
B – Quero falar disso contigo. Dos teus antepassados loucos, desses papéis sem sentido com que mascaras a vida toda, que só podes ter aí dentro guardada porque é como um desses vinhos que precisam de descansar em sossego.
C – As tuas páginas são tão boas que mesmo que tenham demorado muito a ser escritas estão de acordo com as descrições apócrifas do Tratado Geral da Insensatez, esse livro invisível em que te inspiras para te esconderes do mundo.
B – Olha que a vida também respira, como os licores e os poemas, que inspiram e exalam os oxigénios todos que há nas plantas. Como se não fosse preciso dar tempo à clorofila
C – Anda lá. Zanga-te. Mas não te sintas idiota. Isso é uma coisa que não tens. Nem um pingo. Nada. A tua pupila usa uma máscara de talma. Uma fala de coro. Um mote. Uma rima descorada.
B – Agora temos de nos encontrar. Assim como dizes, só para sentir