Acordei agora do meu sonho princesa bailarina.
Sinto a falta do contorno quente do teu corpo no meu. Tenho gravada a textura da tua pele na memória da minha. Na tua ausência tenho tocado essa gravação vezes sem conta, como os adolescentes do nosso tempo, a fazer rewinds infinitos em cassetes de fita magnética onde guardávamos os nossos heróis e até as conversas de família.
Somos do tempo em que se guardavam sons como se não houvesse mais nada, como se a impressão da vida fosse apenas sonora.
Talvez por isso não envelhecemos tanto e, também por isso, encontramos agora esta renovada disposição para amar.
Tenho de dizer-te: enches-me de poesia.
Quero ser a palavra no teu movimento, o som novo na tua forma, a companhia perfeita do teu bailado perpétuo.
Se nunca te vi dançar, foi porque ainda não tinha chegado o tempo. Se não te aplaudi em todos os palcos, foi porque a tua obra prima ainda não chegou.
Porque hás-de ser a prima ballerina de todo o tempo que me falta e a última mulher que o meu coração amou.
As tuas palavras emocionaram -me tanto que por momentos encostei novamente a cabeça na almofada e fechei os olhos. Num movimento semelhante a encostar -me a ti – a cabeça no teu peito, o meu braço numa diagonal em que a minha mão acaricia o teu rosto – pude sentir-te perto de mim.
Segundo andar esquerdo - Espuma dos dias
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