Antes de dormir

Deitado na cama aponto os olhos ao teto branco cinza escuro, quase negro, iluminado apenas pelas sombras que entram pela única janela do quarto. Para adormecer tento encontrar formas e  significados às manchas de luz que cada carro que passa  lá fora deixa na penumbra. A luz é tímida que quase não impressiona. Não há outro ruído que o tic-tac do despertador pousado na mesinha de cabeceira a marcar  o compasso das aparições. Vai-dor-mir-faz-óó.

É assim que faço: começo a contar animais místicos como se fossem ovelhas. Valindes, Gurques, Lampos-docardos,  meia dúzia de  crias Farmoris (andam sempre em bando quando são pequenos) erram como bactérias  microscópicas no ecrã do sono. Um Gurque aqui, um Lampo ali, caudas curtas, línguas frias, olhos de gato, extravagantes penas. Uns saltitam felizinhos, outros caminham altivos,  outros ziguezagueiam como se tivessem bebido muito. […]