Átono
Vai anda anuncia Desembrulha as palavras guardadas Descobre as sílabas deitadas Grita aos acentos levantem-se ventos E esvazia à toa esse vazio de sílabas tónicas com que rebentas no mar
O que fica do tempo que passa
Vai anda anuncia Desembrulha as palavras guardadas Descobre as sílabas deitadas Grita aos acentos levantem-se ventos E esvazia à toa esse vazio de sílabas tónicas com que rebentas no mar
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. Não florescem no inverno os arvoredos, Nem pela primavera Têm branco frio os campos. À noite, que entra, não pertence, Lídia, O mesmo ardor que o dia nos pedia. Com mais sossego amemos A nossa incerta vida. À lareira, cansados não da obra Mas porque … Continue reading Cada Coisa
Atrás da voz há um mapa À frente dela atenção A muralha é uma canção feita de luz e saudade No coração de Lisboa o tempo sabe passar Passa no rio de barca apontado ao alto mar Quando recordares a vida nao há o que não viveste so há as coisas que viste e todas … Continue reading Muralhas
As mulheres hão-de sempre sê-la porque tudo nelas é magia e o seu ar é mais suave e o olhar que nelas pousa é mais leve e jovem esse olhar. O tempo é só complemento, estame que chama, carpelo que geme. Porque a flora é deusa e eterna. Ao João Francisco Vilhena
Como uma Águia Pesqueira quando mergulha sem vertigem no mar Como um Nadal em top spin buscando na linha o horizonte da forma Como um Picasso sóbrio desenhando deus como uma criança Como um Giotto dos tempos modernos a reinventar a perspectiva Como um Chapeleiro Louco a dar horas em Wall Street Como no Livro … Continue reading Olhar
Era uma vez em vez de lábios palavras e em vez de voz paradas cigarras Era o tempo do intermezzo meio seco do brandy light by night Era como fosse onde ninguém morava nem o copo nem a árvore nem os lábios nenhuma língua Só a palavra. @ 2006
Por toda a parte onde a terra for pobre e alta, elas aí estão, as cabras – negras, muito femininas nos seus saltos miúdos, de pedra em pedra. Gosto destas desavergonhadas desde pequeno. Tive uma que me deu meu avô, e ele próprio me ensinou a servir-me, quando tivesse fome, daqueles odres fartos, mornos, onde … Continue reading As cabras
em quartos que crescem nascem e morrem
Aí no silêncio onde moras à luz oblíqua de outono sou teu íntimo felino Garra da tua sombra mago devoto na tua luz Improvavel profeta ecrã impossível tocar-te e fuga e som
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, A essa hora dos mágicos cansaços, Quando a noite de manso se avizinha, E me prendesses toda nos teus braços… Quando me lembra: esse sabor que tinha A tua boca… o eco dos teus passos… O teu riso de fonte… os teus abraços… Os teus beijos… a tua … Continue reading Se tu viesses ver-me…